segunda-feira, 1 de abril de 2013

ARTE E EDUCAÇÃO NA MINHA VIDA II


 Em 1944 Guignard chegou a Belo Horizonte convidado pelo prefeito Juscelino Kubitschek para dirigir a Escola de Belas Artes. Senti o impacto de sua presença como uma renovação no panorama artístico de Minas e uma ruptura com o academismo. Procurei me inscrever em seu curso. Foi necessário um descondicionamento dos conceitos e fórmulas herdadas do academismo, para que eu pudesse ter acesso a minha própria individualidade. Meu objetivo era libertar-me do passado acadêmico e encontrar a linguagem adequada ao meu tempo. Guignard estimulava a coisa nova e a partir desse  incentivo descobríamos nosso estilo individual. A convivência com os colegas e a poesia do Parque Municipal me estimulavam a criação e me despertavam novas indagações sobre a arte.
Atualizava-me também lendo os filósofos e místicos que estudavam a arte como abertura de consciência: Rainer Maria Rilke, Jacques Maritain, Kandinsky. Gostava de escrever textos que mais tarde se tornaram livros. Esses textos revelavam também a necessidade de escrever que sempre acompanhou paralelamente à minha necessidade de desenhar e pintar.
Participei do movimento concretista integrando o grupo de Minas Gerais ligado à Escola Guignard: Mário Silésio, Marília Giannetti Torres, Nelly Frade, Mary Vieira, Amilcar de Castro e Franz Weissmann. Naquela ocasião, as formas do mundo exterior deixaram de servir de ponto de referência obrigatório. Os artistas buscavam a simplificação da forma para que a linha e a cor pudessem falar por si e expressar seu equilíbrio próprio independente da figura. O concretismo possibilitou um encontro da arte com a ciência, a matemática e a física. Integrou-se à poesia e à música. A poesia concreta revelou a possibilidade da palavra no campo visual e na pintura as cores eram distribuídas em pequenos quadrados coloridos sobre fundo chapado, sugerindo partituras musicais. Nunca a pintura se aproximou tanto da música como naquela período da história das artes plásticas.
Na década de 50, eu participava de salões e Bienais e isto me permitia estar atualizada com a vanguarda da época. Viajava para São Paulo para conhecer o que se fazia no mundo artístico, e ali encontrava jornalistas, críticos de arte e artistas. O crítico de arte Mário Pedrosa vinha me visitar em Belo Horizonte e um dia me telefonou dizendo que eu era a melhor candidata ao Prêmio de Viagem à Europa pelo Salão Nacional de Belas Artes. Não hesitei em adverti-lo: Não posso me afastar do Brasil por dois anos. Razões de família me impedem. O importante para mim era continuar minha vida de artista, junto aos meus filhos em Belo Horizonte.
Meu atelier situava-se num quintal muito grande onde as crianças brincavam. Gostava de senti-los perto de mim, criando seu universo lúdico através de desenhos. Meu marido trazia papéis e eu acrescentava lápis de cores e pastéis coloridos. Com este material as crianças se expressavam livremente. Meus filhos pintavam nos muros imensos painéis com tintas preparadas em casa. Esse constante estímulo à criatividade, de certo modo, constituiu a base necessária para que eles se expressassem na vida como seres humanos criativos.

*Fotos de Ivana Andrés e da internet

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