quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PARCERIA COM UMA GRANDE AMIGA TAPECEIRA

Na década de 80 realizei juntamente com Maria Ângela Magalhães e sua equipe de tapeceiras, mais de 100 tapeçarias a partir de projetos de minha autoria. Foi uma experiência muito gratificante, porque me foi possível ver o meu desenho cheio de nuances, ampliado muitas vezes de forma monumental, num outro tipo de linguagem. Arte de equipe proporciona ao artista a oportunidade de dividir com outras pessoas o seu trabalho. Eu ia ao Rio freqüentemente, acompanhando com alegria a transformação de uma aquarela ou pastel em bordados de lã. Ângela tingia, ela mesma, os rolos de lã e as bordadeiras, residentes no outro lado da baía de Guanabara, iam e vinham com aqueles rolos imensos, dentro da barca de Niterói.

Hoje, revendo alguns papéis guardados, descobri uma carta de Maria Ângela, grande colaboradora, recentemente falecida, e que transcrevo abaixo:

“Querida Helena,
Aí vai, com um abraço e meu carinho:
Em busca de novas formas de expressão, o artista que se propõe a uma obra de equipe exerce, no mínimo, uma boa parcela de generosidade. Ele reparte o que é só seu e aceita uma cooperação no que cria. Esta generosidade é um traço precioso na personalidade de Maria Helena Andrés. Ela está sempre pronta para o outro, e a sua obra estabelece, desde logo, uma comunicação direta com o espectador.
Trabalhamos juntas por mais de dez anos em uma centena e tanto de tapeçarias. Para mim, perceber o desenho, captar a sensibilidade das transparências, as passagens sutis de cor, e integrar uma linguagem à outra, foi oportunidade de aprendizado e causa de muita alegria. As bordadeiras que teciam, misturando muitos fios e pontos complicados, o faziam com gosto e prazer – e os eventuais compradores se encantavam com o resultado – um encontro feliz.
Se tivesse que me reportar a algumas, falaria sem dúvida, das da Matriz de Nossa Senhora de Copacabana.  Os cartões foram feitos e doados à Igreja. E, de repente, uma igreja, que tende mais a agradar ao gosto conservador dos seus fiéis, sem nenhuma preocupação com os valores artísticos, o desenho solto, alegre, criativo de Maria Helena é um testemunho da liberdade do ser humano. E, na medida em que reflete a sua sensibilidade, atinge a todos que as vêem. Eu mesma, que trabalhei quase um ano sobre elas, a cada vez que contemplo aquelas tapeçarias – me comovo.
Maria Helena, semeadora de alegrias, recupera o que vinha se perdendo pelo tempo afora e põe, como antigamente, a arte a serviço da fé."

*Fotos de arquivo


VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MINHA VIDA DE ARTISTA”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário