quinta-feira, 12 de março de 2015

MEMÓRIAS DE UM CAVALETE

No sábado, 28 de fevereiro, houve uma performance na nossa fazenda em Entre Rios de Minas. Performance é um acontecimento que os artistas promovem para marcar eventos importantes, trabalhar o corpo e dar  um toque de consciência nas pessoas. A performance é uma cena única, imediata. Sua função é de atuar no aqui e agora.
Não tendo podido comparecer ao acontecimento procurei senti-lo à distância, através de fotos e depoimentos. A performance realizada no pátio de nossa fazenda foi organizada por Jayme Reis, Marília Andrés e Pedro Ariza Gonzàlez. Fizeram uma fogueira das coisas velhas, papéis, telas que não deram certo e até um cavalete fora de uso, sustentando uma tela pintada por Jayme Reis com uma figura ao estilo de Picasso. Fiquei pensando na trajetória de meu cavalete que já prestou muito serviço e amparou muitos sonhos. Para que serve um cavalete? Hoje em dia, com a ampliação dos quadros para dimensões maiores, o cavalete vai caindo em desuso.
Lembro-me de um cavalete portátil que eu tive quando ainda estudava na Escola Guignard. Instalei o meu pequeno cavalete em cima da grama sustentando uma tela. O cavalete não parava em pé e eu tentava pintar assim mesmo. De repente ouvi uma voz atrás de mim: “Deste jeito é difícil pintar!” Olhei para trás, era o Roberto Burle Marx me aconselhando... Naquele tempo os grandes nomes da pintura vinham conversar com o Guignard e aconselhar suas alunas...
Agora, o meu último cavalete foi queimado na performance juntamente com a figura de Picasso feita por Jayme Reis, denominada The Last Picasso.  A cena foi incrível, o céu estrelado assistiu tudo e a fogueira consumiu o quadro e o cavalete reduzindo a cinzas um pouco do meu passado. A idéia da queima foi importante para o meu aprendizado de desapego. O cavalete foi queimado e com ele uma série de histórias. Agora, de uns tempos para cá não uso mais cavaletes. Coloco a tela no chão e vou pintando com uma vassoura de espuma. Há muito tempo deixei os pincéis, eles são usados somente para assinatura. Na década de 1960 substitui os pincéis pela esponja e o cavalete também perdeu o seu uso.  A performance no pátio da nossa casa em Entre Rios de Minas foi de grande importância para mim, um aprendizado de vida. A queima do cavalete simbolizou a libertação do suporte. Cavalete é o suporte tradicional da pintura desde o renascimento e este cavalete virando cinzas mostrou a transformação que já estava ocorrendo na minha arte: novos meios de expressão vieram à tona tais como as pesquisas na Índia, a publicação de livros, a escultura, a fotografia e os blogs na internet.  A vida e a arte continuam o seu caminho.

*Fotos de Eymard Brandão, Jayme Reis, Pedro Ariza e Marília Andrés


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Um comentário:

  1. Otima memoria de um cavalete, que prestou bons serviços.
    Abraços,
    Mauricio

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