terça-feira, 11 de agosto de 2015

ANIVERSÁRIO E VIAGENS

Estou sentada ao pé do fogo, desta vez na minha casa do Retiro das Pedras. Lá fora um vento frio vai reunindo as lembranças de uma festa que terminou ao cair da tarde. As cenas do presente, com papéis espalhados pelo chão, outros crepitando na lareira, trazem recordações diversas. A festa acabou...

Aqui nesta casa as vozes das crianças se misturavam com outras vozes adultas, de pais, tios, primos, uma árvore genealógica que remonta ao meu casamento com Luiz Andrés em 1947.

Construímos esta casa com muito esforço, pensando no futuro dos filhos, netos e bisnetos. Imaginávamos um local de paz, longe do barulho da cidade. Hoje em dia, conquistar a paz não é fácil; em qualquer lugar as notícias de crise no Brasil nos tiram o sossego. Algumas pessoas estão deixando o Brasil, como Antônio Eugênio, meu irmão caçula, que hoje esteve aqui comemorando o meu aniversário e se despedindo da família. Cansou do Brasil e comprou uma casa em Lisboa. Acho que ele vai se dar bem, fazendo o percurso contrário dos navegantes portugueses. Ao invés de se dirigir às Américas, ele se dirige à velha Europa.

Essa raiz europeia, todos nós temos. Fomos descendentes dos corajosos navegantes que se atiravam no mar em busca de algo novo, ainda não descoberto. Com a coragem e a força de um chamado interno, eles chegaram até as Índias e a China.

Herdei desses meus antepassados a minha necessidade interna de descobrir o Oriente e suas riquezas espirituais; de sentir de perto o reflexo dessas filosofias na educação e na arte e mostrar as minhas reflexões através de livros, palestras, quadros.

Realizei também o roteiro inverso, em busca de uma integração Oriente- Ocidente. Agora, vejo Antônio Eugênio retornando às origens europeias de todos nós. Esta viagem de retorno é profundamente enriquecedora. Seus frutos serão colhidos num futuro próximo.
Parece que a família toda está se deslocando para o velho continente, buscando aprender na fonte.

No momento, vivo de recordações, pois as viagens exigem muito sacrifício; deixo isto para os mais novos.
O meu momento presente é a casa do Retiro das Pedras, o fogo crepitando na lareira, queimando desenhos mal resolvidos e escritos inacabados. Minha casa continua do mesmo tamanho, feita para abrigar uma família pequena. Hoje abrigou 70 pessoas, com netos, bisnetos, sobrinhos, irmãos, filhos.Não foi possível convidar amigos, a casa não comportava...

Tivemos de expandir a cozinha para fora da casa. Fizemos uma macarronada coletiva; cada convidado vestia um avental e ajudava a abrir a massa. Depois o Euler ia passando a massa numa máquina de madeira, bem artesanal, comprada na Itália para fazer macarrão. Esse trabalho coletivo, feito com a colaboração de todos, além de despertar o lúdico, ainda favorece a união da família.
Da minha parte, preferi descascar batatas para a salada, o que me fez recordar os almoços coletivos nos ashrams da Índia, o Grupo Gurjdieff e a Universidade Holística de Brasília. Nesses encontros, todo mundo trabalha, seja ele artista, filósofo, intelectual ou dona de casa.

Este exemplo nos mostra o futuro do século XXI.Ninguém parado, esperando ser servido... Todos trabalhando, para o bem comum.

*Fotos de Maurício Andrés


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