terça-feira, 15 de março de 2016

VIAGEM AOS EUA IV

 Trecho do meu diário de viagem aos EUA em 1961:
Greenwich village – NY
Greenwich Village é o bairro existencialista de N. York. Copiam o Montmartre de Paris. Lá se vêem homens barbados e mulheres de longos cabelos, literatos e artistas se misturam à boemia da cidade. À tarde, depois do lanche, a praça está cheia. Estudantes levam sanduíches para comer na grama, fazem da imensa Washington Square um enorme pátio de recreio. Sentam-se ao longo dos bancos circulares, discutem problemas, estudam. Vi um estudante  atentamente lendo alguma coisa ao meu lado, e tomando notas. “Introdução à Filosofia”. É lá que fica a Universidade de N. York. Lá também os artistas costumam alugar ateliers para trabalhar durante o dia. Reúnem-se à noite no Cedar Bar, junto à Universidade, para trocar ideias e beber. Há artistas que vêm de longe para participar do ambiente de inspiração que o Village lhes dá. Percorro a Washington Square, pensando como podem as opiniões serem tão diferentes. Prefiro uma quadra mais autêntica da imensa Washington Square. Há uma cerca para separar as crianças dos grandes. Os grandes lá estão, mostrando a “pinta” de gente diferente. As crianças não os vêem, brincam inocentes no cercado de areia. Sujam as carinhas, constroem castelos. Cabelos ruivos, narizinhos sardentos, como são lindas as crianças americanas! Aquele pequenino acabou de comer areia, a mãe vem socorrê-lo correndo. A mãe é pintora e minha colega na Art Students League. Será que estas crianças, quando crescerem, vão ser também existencialistas?  Bato uns slides da turma de guris, da miniatura do Arco do Triunfo, do povo sentado lendo.
James Brooks
Marcaram-me um appointment com Mr. James Brooks. Mr. Brooks é o autor da célebre frase que citei no meu trabalho sobre arte.
“A superfície da tela é o ponto de encontro daquilo que o pintor conhece, com o desconhecido que ali aparece pela primeira vez.”
É um dos melhores artistas americanos, e tem atelier neste bairro modesto e pobre de N. York. Tomo um táxi para não ter de atravessar a pé as ruas. Há bêbados e homens discutindo, e eu prefiro parar exato onde preciso descer. Mr. Brooks espera-me às 3 horas. Foi avisado da minha visita. Às 3 horas em ponto, estou tocando a campainha de baixo. O Studio fica no 3o andar. “- Are you Mrs. Andrés?”. Mr. Brooks está à minha frente, leva-me por aquelas escadas enormes até seu atelier. Nunca vi um Studio tão grande! Há quadros empilhados nas paredes, painéis enormes, e os últimos desenhos sobre a mesa. Mr. Brooks mostra-me tudo, pergunta sobre o Brasil, interessa-se por minha exposição. Gosto de conhecer artistas, de ver de perto como trabalham. É melhor e mais interessante do que ver os quadros dependurados no museu. Oferece-me café feito por ele, na hora, conta um pouco do movimento artístico de N. York. “- Sou do Texas, mas há muito moro aqui. New York é o centro para onde convergem artistas vindos às vezes de todas as partes do mundo”. Os artistas do leste e oeste americano têm um estilo completamente diferente. Notei isto nas minhas viagens. Aqui em N. York predomina a escola de Pollock, Hoffman, De Koonnig, Stamos e Brooks. São violentos, expressivos, completamente informais. James Brooks pertence à categoria dos informais, suas fases são firmes e conscientes e há uma certa unidade entre elas. Todo o itinerário de sua pintura está aí nos quadros que me mostra. Este itinerário será publicado em livro brevemente. Mr. Brooks é polido com as senhoras, como todo americano. Desce comigo as escadas, leva-me até o ponto mais próximo de ônibus. “Vou levá-la até a Broadway, não convém que ande sozinha por aqui”.
*Fotos da internet
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