segunda-feira, 5 de setembro de 2016

FASES DE BARCOS, DE GUERRA E ESPACIAL

Descobri em meus arquivos de 1969, algumas anotações sobre o processo que me conduziu dos barcos às naves espaciais.

A fase de barcos teve início em 1959, antes da minha viagem de 4 meses para os EUA. Os barcos, que têm sido uma constante em minha arte, tiveram seu início no desenho. Os primeiros barcos, ainda da fase abstrata geométrica, já estavam sugeridos nos desenhos a bico de pena realizados em 1959. Mais tarde, parti para uma experiência em papel veludo, usando o crayon conté. Comecei a pesquisar transparências, valores de claro e escuro, nuances equilibradas dentro de uma estrutura que se firmava nos mastros. Para conseguir transparências mais sensíveis, graduava a intensidade das sombras, colocando o papel sobre uma tela que me permitia maior flexibilidade. Os barcos, considerados por crítico americano como “a imaginação em movimento”, marcaram de certo modo esta procura constante do movimento e tensão espacial. Apesar das transparências e passagens atmosféricas, não podiam fugir a uma estrutura. Talvez por isso mesmo escolhi os veleiros, pela estruturação que os mastros me proporcionavam.

Depois veio a série de Guerra. Quando eu estava nos EUA em 1961, em viagem de estudos, o país estava sendo mobilizado para uma invasão. Haviam instruções nos hotéis, nas TVs e rádios, de como proceder em caso de ataque atômico. A fase de Guerra nasceu desse impacto. As estruturas são mais fortes e agressivas, as transparências menos líricas. A sugestão de mastros ainda continua e a figura humana começa a aparecer cheia de tragédia.

Em 1968 as conquistas espaciais começaram a me fascinar e minha pintura , sendo uma evolução da fase de guerra, modificou-se, antecipando os últimos acontecimentos que movimentaram o mundo: os primeiros passos do homem na lua e a sua volta à terra. Deixei o tema de guerra, um protesto contra a destruição e a violência, para me empenhar imaginariamente na direção da lua e das estrelas, compondo as plataformas espaciais, os foguetes e as naves tripuladas. Eram naves interplanetárias conduzindo homens, mulheres, máquinas, fábricas, cidades, para mundos inexplorados. Existia a necessidade de um colorido mais alegre do que a fase de guerra e do brilho às vezes metálico, às vezes transparente dos engenhos voadores. As figuras humanas, pequeninas, marcavam a monumentalidade das máquinas. Eram sugeridas, ora dentro das janelas, ora através de filmagens. Refletores, faróis, investigavam o espaço, procurando novos rumos para o pouso final. As cores eram vivas, transparentes, e o dinamismo era uma constante. No último quadro, pintado 1 mês antes da chegada do homem à lua, a figura de um astronauta saia da cápsula. Mais tarde, admirada, confirmei pela TV alguns aspectos do que já imaginara desde 1966. O artista muitas vezes antecipa os fatos, prevê situações. Identificando-se com o fantástico, cria símbolos que só mais tarde, com o correr do tempo se realizam.

 Os quadros da fase espacial, foram uma consequência de intuições, identificações e pressentimentos, mas também toda uma pesquisa iniciada 10 anos antes, quando ainda em papel veludo, desenhava meus barcos.

 No meu processo de trabalho, sempre escolhi temas sensíveis, comuns a toda uma coletividade, e neles procurei inspiração para meus quadros.

*Fotos de arquivo


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